sábado, 31 de dezembro de 2011

CINZAS

dia feio
feito um sol apagado
no cinzeiro

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tragar o dia
apagar o sol
no cinzeiro da noite

______

(es)tragar o dia
apagar o sol
no cinzeiro da chuva


Japão, 2011 - by David Guttenfelder

domingo, 25 de dezembro de 2011

A Ceia de Emaús, 1602, de Caravaggio


Natal é um pé no saco - mas eu gosto do modo como Hannah Arendt destaca o traço indelével do cristianismo na nossa cultura:

"Entregues a si mesmos, os negócios humanos só podem seguir a lei da mortalidade, que é a única lei segura de uma vida limitada entre o nascimento e a morte. O que interfere com essa lei é a faculdade de agir, uma vez que interrompe o curso inexorável e automático da vida cotidiana que, por sua vez, interrompe e interfere com o ciclo do processo da vida biológica. Fluindo na direção da morte, a vida do homem arrastaria consigo, inevitavelmente, todas as coisas humanas para a ruína e a destruição, se não fosse a faculdade humana de interrompê-las e iniciar algo novo, faculdade inerente à ação como perene advertência de que os homens, embora devam morrer, não nascem para morrer, mas para começar. No entanto, assim como do ponto de vista da natureza, o movimento retilíneo da vida do homem entre o nascimento e a morte parece constituir um desvio peculiar da lei natural comum do movimento cíclico, também a ação, do ponto de vista dos processos automáticos que aparentemente determinam a trajetória do mundo, parece um milagre. Na linguagem da ciência natural, é 'o infinitamente improvável que ocorre regularmente'. A ação é, de fato, a única faculdade milagrosa que o homem possui, como Jesus de Nazaré, que vislumbrou essa faculdade com a mesma originalidade e ineditismo com que Sócrates vislumbrou as possibilidades do pensamento, deve ter sabido muito bem ao comparar o poder de perdoar com o poder mais geral de operar milagres, colocando a ambos no mesmo nível e ao alcance do homem.
O milagre que salva o mundo, a esfera dos negócios humanos, de sua ruína normal e 'natural' é, em última análise, o fato do nascimento, na qual a faculdade de agir se radica ontologicamente. Em outras palavras, é o nascimento de novos seres humanos e o novo começo, a ação de que são capazes em virtude de terem nascido. Só o pleno exercício dessa capacidade pode conferir aos negócios humanos fé e esperança, as duas características essenciais da existência humana que a antiguidade ignorou por completo, desconsiderando a fé como virtude muito incomum e pouco importante, e considerando a esperança como um dos males da ilusão contidos na caixa de Pandora. Esta fé e esta esperança no mundo talvez nunca tenham sido expressas de modo tão sucinto e glorioso como nas breves palavras com que os Evangelhos anunciaram a 'boa nova': 'Nasceu uma criança entre nós'."
("A Condição Humana", de Hannah Arendt, trad. Roberto Raposo, ed. Forense Universitária, 2009, pág. 258-259)

sábado, 10 de dezembro de 2011

New York, 1958 - by Bill Crow


"As sociedades existem na medida em que possam fazer música, ou seja, travar um acordo mínimo sobre a constituição de uma ordem entre as violências que possam atingi-las do exterior e as violências que as dividem a partir do seu interior". ("O Som e o Sentido", de José Miguel Wisnik, pág. 34)



"Cais", por Nana Caymmi e Milton Nascimento (mais o pianista, que não identifico)

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

NÓS

eu, górdio
tu, cega
fomos desfeitos um pro outro


Cuba, 1961 - by Bruce Davidson

sábado, 3 de dezembro de 2011

ensaio sobre o sorriso dela


Teu sorriso é atalho
na distância entre nós



Teu sorriso é um a-
talho  n a   d i s  t  â   n    c      i       a         e  n    t     r     e                n             ó               s




T                                                                                                                                       s
   e                                                                                                                                ó
      u                                                                                                                         n
           s                                                                                                                e
              o                                                                                                         r
                  r                                                                                                 t
                      r                                                                                         n
                          i                                                                                 e
                              s                                                                        a
                                  o                                                               i
                                       é                                                      c
                                           u                                             n
                                               m                                   â
                                                     a t a l h o na d i s t





ATALHO

No meio do caminho tinha um sorriso
teu

Sorri também, agora
entre nós são só
dentes

Meus dentes, muito juntos não
deixam passar fio de nada

Teus dentes, tão separados são
cheios de atalhos

Entrar na tua boca, percorrer tua língua
Caminho feito
Nós desfeitos


Teu sorriso me ata
                            -lha


Engenheiros do Hawaii - Refrão de Bolero (com Borghettinho)


quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

III. Allegro vivace

 Billie Jean on guitar by Sungha Jung. Incrível. Mais incrível ainda é que ele toca de olhos fechados (Ok, não teve graça).



 Banalizei a palavra incrível. Devia ter reservado-a para o dançarino aí abaixo. Incrível mesmo - Elvis, Fred Astaire, Peter Pan e sei lá mais quem encarnados num só.



viver é delicado
argumento de samba
sentimento de fado

                                  Lau Siqueira