No século XVII vivia em Eisenach, Alemanha, uma família de
forte veia musical. Vários dentre os da numerosa prole se dedicaram à música.
Viveram dela e por ela morreram. Falo da família Bach, de onde surgiu aquele
que é possivelmente o maior nome da história da música ocidental: Johann
Sebastian Bach, nascido em 31 de março de 1685, há exatos 328 anos.
Na mesma cidadela de Eisenach, por volta da mesma época, vivia
outra numerosa família. Um sujeito de nome Johann Sebastian Lindemeyer (ou Johannes Sebastian Lindemeier),
nascido em 1792, decidiu embarcar numa audaciosa viagem
só de ida através do Oceano Atlântico, juntamente com filhos e esposa, grávida.
Destino: o sul do recém-proclamado Brasil independente.
Johannes Sebastian Lindemeyer se tornou mais um número na
estatística da massiva imigração alemã à região do Vale do Rio dos Sinos, no
Rio Grande do Sul. Sabemos que casou-se com Anna Charlotte Steinmann (ou Susana Charlotta), e que
entre seus filhos havia uma de nome Mariana Lindemeyer (ou Maria Anna), nascida no ano de 1826,
em plena viagem, a bordo da embarcação. Esta casou-se com Joseph Phillip
Schmidt, gerando nove filhos. Entre eles, Carolina Schmidt, nascida em Lomba
Grande, distrito rural de Novo Hamburgo. Quatorze foram os seus filhos com Christiano
Matte, que se espalharam por diversas cidades do estado – notoriamente
Montenegro, onde a filha de nome Paulina Matte, casada com Arthur Affonso Becker,
deu à luz cinco rebentos, sendo uma delas de nome Edith Irma Becker. Esta,
tendo casado em Novo Hamburgo com Luiz Oswaldo Bender, teve apenas dois filhos:
Flávio e Cláudio. O primeiro faleceu sem deixar herdeiros; o segundo casou-se
com Jandira Petry. Dois filhos nasceram desta união: Bernardo e este que vos
escreve.
Pelo menos até o momento, esta geração anos 1980 não deu
prosseguimento genealógico à história iniciada com o obscuro alemão Johann Sebastian Lindemeyer. Passaram-se seis gerações até chegarmos aqui, agora, onde
um sujeito de 28 anos de idade, solteiro, sem filhos, habitante de Novo Hamburgo,
navega não através do oceano, mas na internet. Dentre suas atividades
preferidas está a de baixar e ouvir
as composições daquele outro alemão
de nome Johann Sebastian, de algum modo seu conterrâneo.
J.S. Bach (1685-1750), o maior entre os maiores, o grande
organizador do caos barroco, não poderia imaginar do que a sua música seria
capaz no século XXI. Desde que pela primeira vez ouvi a Ária na 4ª corda, por
exemplo, tive a impressão de que a minha vida estava sendo salva. E assim
acontece todas as vezes que a ouço. “He
will be bach”, é o que dizem por
aí os messiânicos.
Eisenach/Novo Hamburgo, 31 de março de 1685-2013.
P.S.: Eisenach também é lembrada por ter sido o local onde
Lutero traduziu o Novo Testamento do latim para o alemão. (Assim como inscrevi
meu lugar na história da música, atrelando meu destino ao maior compositor de todos
os tempos, em outro momento hei de destrinchar a minha ligação com o livro mais lido do mundo).
Estátua a J.S. Bach em Eisenach |
Retrato de J.S. Bach - Haussmann, 1748. (Olhando bem, tem algo familiar). |