Ouvindo a voz e o violão de Sharon Van Etten tenho a impressão de que ela está arriscando tudo, inclusive a própria vida, tamanha é a franqueza com que ela oferece a sua música. Com uma personalidade vocal invulgar - geralmente transitando entre lamentos ásperos e doces ambiguidades - e um ataque tantalizante às cordas do violão, parece restar a ela um último resquício de inocência, que oscila diante do abismo, entre a repulsa e a atração.
Esta instabilidade, contudo, está ancorada num ruído de fundo enigmático - uma espécie de sugestão de baixo-contínuo, no qual presume-se crueza, desolação, suplícios da alma, ilusões perdidas; mas, acima de tudo, um desejo hesitante de compreensão. Há ternura, mas sempre mantendo preservado o lado escuro da sua lua. O sombrio mistério de Van Etten evoca as harmonias de Low e de Elliott Smith, através de canções que chegam a um acordo inclusive entre o folk e o shoegaze.
Num meio artístico em que, de um lado, o excesso de artificialismos inviabiliza a busca pelo sentido, e, de outro, o sentido está previamente decretado por consenso, Van Etten é como uma pedra no leito de um riacho - busca a verdade, mas não a encontra.