sexta-feira, 8 de abril de 2011

Realengo



"Nosso suor sagrado é bem mais belo que esse sangue amargo", dizia a letra de Tempo Perdido - "e o que foi prometido, ninguém prometeu".

O Brasil caminha a passos largos rumo ao envelhecimento da população, conforme as tendências demográficas. O que será da juventude do tempo perdido? E o que resta à juventude de hoje, além de todo o tempo do mundo? O que faz uma juventude na escola, além de esperar o final da vida escolar? O que faz a juventude após terminar a escola, além de remoer as promessas que ninguém prometeu?

O cineasta norte-americano Gus Van Sant dedicou alguns belos filmes ao olhar da juventude. A referência mais evidente é Elephant, ficção baseada no célebre massacre de Columbine. Menos conhecido é Paranoid Park, cujas primeiras cenas estão aí:


Poderíamos ter mais cinema assim, com o olhar da juventude de dentro pra fora.

E antes que alguém diga que poderíamos ter mais rock genuíno de juventude, que tal ouvir "Tudo que eu sempre sonhei" dos Pullovers? (Os tempos correm tão depressa que já há uma parte da letra ultrapassada pelos acontecimentos).


Tudo Que Eu Sempre Sonhei

Pullovers

Composição : Luiz Venâncio

Sempre pensei que aconteceria,
de criança acreditava nos adultos
que era só pagar pra ver.
Feio, meio assim desconfiado,
perna em xis, já barrigudo,
duvidando que eu conseguisse crescer.
Mesmo assim, contudo,
o tempo foi passando
e eu fui adiando, mudo,
os grandes dias que ia conhecer.
Quem sabe amanhã? Próximo ano?
Cebolinha com seus planos
infalíveis ia me ensinar a ser
 
forte, corajoso, bom de bola,
um dos bonitos da escola
muito embora eu não fizesse questão.
Ainda bem que eu sou brasileiro,
tão teimoso, esperançoso,
orgulhoso de ser pentacampeão,
já que se eu fosse americano
pegaria uma pistola
e a cabeça ia perder a razão:
mataria quinze na escola,
estouraria a caixola
e apareceria na televisão.

E por fim cresci, de insulto em insulto
eu me vi como um adulto,
culto, pronto pra o que mesmo? Já nem sei.
Olho e não encontro,
penso se não fui um tonto
de acreditar no conto
do vigário que escutei.
Não tem carro me esperando,
não tem mesa reservada,
só uma piada sem graça de português.
Não tem vinho nem champanhe ou taça,
só um dedo de cachaça
e um troco magro todo fim de mês.

Tudo que eu sempre sonhei.
Tanto que eu consegui...
É tão bom estar aqui...
Quanto ainda está por vir...

Mas bobagem, quanta amargura,
eu já sei que a vida é dura,
agora é pura questão de se acostumar.
Basta ter coragem e finura
e o jogo de cintura
aprendido dia a dia, bar em bar.
Pra que reclamar se tem conhaque,
se na tevê tem um craque
e o meu Timão só entra pra ganhar?
Pra que imitar Chico Buarque,
pra que querer ser um mártir
se faz parte do momento se entregar?

E por fim tem até namorada,
bonitinha, educada,
séria, tudo o que mamãe vive a pedir.
Tem beijinho e também trepada
e a consciência pesada
a cada nova vontadinha que surgir
de outra mulher, de liberdade,
de um amor de verdade,
de poder fechar os olhos e sorrir,
pensando que então, dali pra frente,
seja qual for tua idade,
o melhor ainda vai estar por vir!

Tudo o que eu sempre sonhei.
Tanto que eu consegui...
É tão bom estar aqui...
Quanto ainda está por vir...
Tudo que eu sempre sonhei.
Tanto que eu consegui...
É tão bom estar aqui...
Eu sei.


O disco é bem bacana e pode ser baixado no site da banda.

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