domingo, 15 de maio de 2011

Appalachian Spring, concert suite after the ballet (St. Louis Orchestra) - Aaron Copland

Vocês terão de alcançar uma impossível imitação da natureza, com seus miseráveis instrumentos de pau e corda. Vosso barulho terá de captar o profundo silêncio de uma montanha amanhecendo. Vossa sofreguidão de sopros e dedilhados terá de ser leve e indestrutível como o viço da semente. Nenhum de vossos arroubos de secreto romantismo terá coragem de se manifestar diante do vôo altivo e rapinante da águia nua. Estourarão as manadas de búfalos, correrá o riacho sobre as pedras, balançarão os capins ao som do vento - mas calem suas palavras, tão mesquinhamente humanas, tão covardemente lógicas. Somente é possível o mergulho na água se for por inteiro e de uma vez, sem experimentar nem medir com ponta de cautela. Somente será tolerado o respeito diante do abismo, nunca o medo de errar. Pois nem a flor mais delicada vacila de sua beleza efêmera, mesmo debaixo do tropel eterno das manadas selvagens e cegas. Vencido o desafio de esquecer que a morte existe; tendo aceitado que tudo o que existe é vida, vida, e vida sobre vida, explosões de vida, eternidades de vida, silêncios de vida, lutas de vida - tendo enfrentado e vencido o desafio da vida, aptos estarão a desfrutar da liberdade. Morrerão vossos deuses, murcharão vossas finalidades, fenecerão vossos objetivos - aqui é o paraíso. Bem-vindos à primavera nos Apalaches.



Uma pesquisa pela internet comprova que meu delírio não tem fundamento. Os Apalaches são meramente decorativos; o título do balé foi o último ingrediente da peça de Copland; spring, neste caso, não se refere à estação, mas a wellspring, fonte, manancial; o balé envolve a vida de um jovem casal às voltas com a construção da casa, parece.

Às favas com a objetividade. Ouçam a suíte orquestral numa manhã nublada e o dia inteiro ficará iluminado e brilhante.

O link expirou, mas aí está, a título de informação:

2 comentários:

  1. Escolho o delírio. Escolho os estouros de manada e os mergulhos sem precaução. E, mais que tudo, escolho estar no bote dos que mandam a objetividade às favas. Aqui nunca nubla a manhã...posso escutar em doídas noites sem estrelas a ver se elas aparecem?

    ResponderExcluir
  2. Aparecem tantas estrelas quantas forem as dores.

    ResponderExcluir