sexta-feira, 13 de maio de 2011

Matam as baratas porque elas são feias

"E a beleza é uma forma de genialidade; é, na verdade, mais elevada do que a genialidade, pois não carece de explicação. Pertence aos grandes fatos do mundo, como a luz do sol, a primavera, o reflexo das águas turvas, ou aquela concha de prata a que chamamos lua. Não pode ser questionada. Possui o direito divino de soberania. Os que a têm, ela os faz príncipes. Você ri? Pois não vai rir quando perdê-la! Vez que outra, as pessoas costumam dizer que a beleza é coisa superficial. Mesmo que o seja, não é, ao menos, tão superficial quanto o pensamento. A beleza, para mim, é a maravilha das maravilhas. Apenas as pessoas superficiais não julgam pelas aparências. O verdadeiro mistério do mundo é o visível, e não o invisível."
"O retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde, trad. José Eduardo R. Moretzsohn, ed. L&PM, p.28-29


Das filhas que o Orgulho teve com a Necessidade, a Beleza é a mais cobiçada. A Beleza é cobiçada até pelos filhos bastardos da Solidão. E eis que percebo que posso desposá-la, pois que a Beleza sorri para mim. Mas eu, que já não sou mais um sátiro (nunca o fui, na verdade) tenho minhas intimidades com Orgulho, o pai severo, e com Necessidade, a mãe caridosa - bem sei que eles não valem o que comem, que a fraqueza alheia é seu alimento, que convenientemente se auto-justificam. Eu não sinto por ela - falo da Beleza - nada mais que a obrigação de retribuir-lhe os sorrisos, o que nos leva, então, a nos consumirmos na casa do Orgulho e da Necessidade. O preço que se paga por desprezá-la? Tirem-me em libras de minha carne seca, mas preservem cada gota do meu sangue digno e rubro. A grande avó de todos nós - gregos e troianos, crentes e pagãos, mercadores e selvagens, senhores e escravos -, a força primitiva que a todos nós engendrou em seu ventre brutal e sensual, chama-se Liberdade.
Bem se vê quão medíocre é a Beleza perto de sua avó.

Mia Wallace de Pulp Fiction por Jason Levesque

3 comentários:

  1. Tá, deve ser porque ando sensível, mas achei este post o melhor dos melhores ever. E, só pra constar, fico com a avó, sempre.

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  2. Gracias. A síndrome de lobo mau também me faz preferir a avó, ainda que, na verdade, este seja um subterfúgio para ludibriar a chapeuzinho-beleza.
    Funcionaria perfeitamente, não fosse a síndrome de caçador-herói que restaura a moral da história.

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  3. A única chapeuzinho que já fui: http://www.youtube.com/watch?v=YIIGFoMAdUQ&feature=related

    Gosto muito do Simonal. Mas a versão da Leila Pinheiro com Carlos Lyra também é charmosa.

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