sábado, 11 de junho de 2011

parágrafo

[como suplantar a razão com uma epifania]:

cerimônia voodoo no Haiti - (Ramon Espinosa)

     "Dizem que não há geração sem quatro homens retos que secretamente sustentam o universo e o justificam diante do Senhor: um desses varões teria sido o juiz mais idôneo. Mas onde encontrá-los, se andam perdidos e anônimos pelo mundo e não se reconhecem quando se vêem e nem eles mesmos sabem do alto ministério que cumprem? Alguém então opinou que, se o destino nos negava os sábios, teríamos que buscar os insensatos. Esta idéia prevaleceu. Alcoranistas, doutores da lei, sikhs que levam o nome de leões e que adoram um Deus, hindus que adoram multidões de deuses, monges de Mahavira que ensinam ter o universo a forma de um homem com as pernas abertas, adoradores do fogo e judeus negros, integraram o tribunal, mas a última sentença foi encomendada ao arbítrio de um louco.
     Aqui o interromperam algumas pessoas que se iam da festa.
     - De um louco - repetiu - para que a sabedoria de Deus falasse por sua boca e envergonhasse a soberba humana. Seu nome perdeu-se ou nunca foi conhecido, mas andava nu por estas ruas, ou coberto de trapos, contando os dedos com o polegar e fazendo escárnio das árvores."

do conto "O Homem no Umbral", de Jorge Luis Borges, trad. Flávio José Cardozo

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