O ano da peste. O ano dos cinemas fechados. O ano em que mais assisti filmes na minha vida, porém em que menos vezes fui ao cinema — uma contradição atroz, para quem considera que o ritual da sala de cinema pode ser tão importante quanto o filme em si. Lamentações evasivas de quem assistiu apenas oito lançamentos e oferece esta escassa lista de preferidos:
1º) Uma Vida Oculta (Terrence Malick)
Malick volta a pisar em chão mais firme, ao mesmo tempo em que nos leva para alturas alpinas — e além. Terra e Céu conjugam-se numa grande história de amor. Escrevi sobre o filme para o Persona.

2º) O Oficial e o Espião (Roman Polanski)
Não é necessário ter algum interesse prévio pelo infame caso Dreyfus para ser completamente cativado pelo filme, pois através de tamanha elegância, concisão, apuro, sobriedade e rigor, não resta ao espectador outra opção senão render-se.

3º) On The Rocks (Sofia Coppola)
Aqui a vida ou presença oculta é de Woody Allen, certamente uma das grandes inspirações para uma amadurecida Sofia Coppola alcançar a adorável mistura de frivolidade e encanto que o veterano nova-iorquino realiza como ninguém.
4º) O Caso Richard Jewell (Clint Eastwood)
Já no texto que fiz para o Persona dizia que pouquíssimas cenas se mantêm vivas na memória — o que o tempo confirmou, a mim pelo menos. Embora não deixe saudades, é mais uma demonstração da eficiência narrativa de Eastwood na abordagem de tragédias que ocorrem sobretudo no íntimo dos indivíduos.

Não deixa de ser curioso que, dos quatro filmes, três sejam centrados na acusação e/ou prisão de homens íntegros, injustiçados, perseguidos — todos eles homens reais em histórias verídicas. Na verdade, isso me faz gostar ainda mais do filme de Sofia Coppola, por sua capacidade de se fazer notável com sua despretensiosa graça em meio a histórias verídicas tão prementes.
Para 2021, espero que possamos voltar ao bom e velho cineminha, àquele arrepio de expectativa quando as luzes se apagam, àquele misterioso silêncio compartilhado na escuridão — até mesmo à eventual irritação pelos maus modos dos desconhecidos com quem compartilhamos a sessão, com quem compartilhamos esse hábito tão trivial e tão mágico de frequentar as salas de cinema.

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