13 dezembro 2025

parágrafo

[como alguns desenhos na noite dão um discreto lirismo à prosa magnificamente econômica de Morosoli]

Umpiérrez despertava, começava o mate, acendia o fogo e preparava um churrasquinho nas brasas. Comia, depois ia para o forno de tijolos onde trabalhava. Ao meio-dia separava-se do grupo de cortadores que faziam o fogo em comum, acendia seu próprio fogo, tomava mate, encostava uma carne e almoçava. De tarde, ao voltar do trabalho, passava pelo matadouro, trazia umas fressuras, assava-as, tomava mate e jantava. Depois sentava-se ao relento, fumando. Pelo caminho sem desvios que ia dar no forno não passava ninguém. Às suas costas, as tunas e as sinas-sinas faziam desenhos na noite. Depois ia dormir.

Do conto "O burro", o meu preferido da antologia "A longa viagem de prazer", de Juan José Morosoli, trad. Sergio Faraco, ed. Mercado Aberto / Metrópole / IEL, 1991, pág. 21

Brent Cotton

Nenhum comentário:

Postar um comentário