O jornal aqui da província de Novo Hamburgo traz a seguinte matéria na edição de hoje: "Filme protagonizado por Breno Mello inspira Obama". Breno Mello, ator principal do famoso filme Orfeu Negro (1959), era jogador de futebol e viveu por estas bandas, ainda habitadas por seus familiares. Obama relembrou o filme em discurso na sua visita ao Brasil. Mas este é um detalhe provinciano (e a matéria é ruim), o que interessa é a história, belíssima, que liga as raízes afetivas do presidente dos EUA à rica fonte de cultura do Brasil.
Conheci essa história pelo meio mais vivo e quente, creio, e gostaria de compartilhá-la. Ela está muito bem narrada por José Miguel Wisnik, em aula-show do Instituto Moreira Salles sobre a canção brasileira. Não, eu não estou fugindo do assunto: a canção brasileira chega ao filme Orfeu Negro, via Vinícius de Moraes, principalmente, grande idealizador do projeto; de Orfeu Negro vamos à mãe de Obama, que assistiu o filme quando jovem e ficou encantada, tanto que, décadas depois, levou o filho Barack ao cinema; do encontro na sala escura entre o jovem Barack, sua mãe e aquele caldo de cultura brasileira de Orfeu Negro, nasceu uma compreensão que é dessas coisas raras da vida.
E o mérito é todo de Barack Hussein Obama, que, para lá de ser o primeiro presidente negro dos EUA, é um sujeito que conquistou minha simpatia por este episódio, narrado em sua autobiografia (um parêntese: Obama autobiografou-se quando ainda era jovem, tinha apenas galgado alguns degraus de destaque na Universidade de Harvard e nem sequer havia iniciado na carreira política!). A figura-chave deste conto (vamos chamar assim) é, na verdade, a mãe de Obama, cuja trajetória peculiar começa pelo próprio nome: Stanley Ann - aqui mais detalhes da interessante vida desta antropóloga branca do Kansas.
Cliquem aqui, seus impacientes cibernéticos, e calem-se uma vez na vida para ouvir uma boa história; aos mais afoitos, recomendo que avancem a barra de tempo até a marcação de 04:05, que é quando começa propriamente esta breve e bela narração.
E então entenderão quão poético é o exagero de dizer que o primeiro presidente negro dos EUA nasceu do sonho de Vinícius de Moraes.
Cena do filme Orfeu Negro |
Eu, se fosse você, prosseguiria escutando as aulas-show do site do IMS, intituladas "O Fim da Canção", banho de interpretação sobre aspectos da canção popular brasileira, com destaque para a Bossa Nova, Caymmi e o Tropicalismo.
Mais impaciente que cibernética ressinto-me da net movida à manivela que não me permitirá ouvir, agora, nem essa nem todas as outras aulas que já estão nos favoritos para a madrugada (dormir é para os fracos, minha curiosidade incita-me). Gostei de ler sobre o fascínio que a mãe do Obama sentiu pelo filme e, tenho certeza que a trilha sonora não é a menor das razões para se perder neste filme. Um exerto pessoal: eu gosto especialmente, neste filme, da fotografia, lírica na concepção e realização.
ResponderExcluirEu não comento o filme, pois não vi mais que pedaço, há anos atrás; por acaso, passava na TV Futura e eu, sem saber do que se tratava, fiquei vidrado na tela durante uns bons minutos (atraído por algo que não saberia dizer o quê, talvez a fotografia mesmo). Depois cansei e fui ralizar alguma atividade muito importante da adolescência, provavelmente jogar video-game. Coisas da vida.
ResponderExcluirMas, ignorando-se a baixa resolução, a foto do filme que coloquei no post já indica que tu tens razão, borboleta.