Eu conheço apenas uma única situação que me dá contentamento (isto, talvez, seja mentira, mas cai bem aqui): o útero. De resto, é como disse o poeta-Pessoa,
E falta sempre uma coisa, um copo, uma brisa, uma frase,
E a vida dói, quanto mais se goza e quanto mais se inventa.
Eu sei reviver o útero, meus amigos, e isso também dói, porque paga-se o preço do isolamento, da solidão profunda. Mas o útero é a solidão perfeita, porque em sintonia com aquele som abafado e reconfortante, um pouco assustador às vezes, do coração da mãe (mãe-mundo). Literalmente mergulhado num caldo de som e de contentamento; nada mais, nada, nada... só o som e o contentamento.
Mas eu dizia que sei reviver o útero, que sei superar a sina de peixe fora d'água que acompanha toda criatura humana.
Estou contente, nada me falta: chegou uma chuva suave lá fora, enquanto aqui dentro chovem Vitor Ramil e Sigur Rós, me devolvendo ao útero úmido do contentamento.
Ouçam... ouçam... é o milagre de estar contente! (só funciona com fone de ouvido)
clipe com gostosíssimas imagens tendo por trilha All Allright, da banda islandesa Sigur Rós
Créditos para Marco Aslan
a mesma música rendeu um enredo que não ficou ruim
Créditos para myhairisprettykewl
Longes, de Vitor Ramil
Atalho para o contentamento: discografia Sigur Rós
(recomendo o disco de 1999 e o último, de 2008, cujas últimas faixas estão entre as melhores reproduções uterinas que conheço)
Gostei muito da idéia de ser possível voltar a um estado de completo desconhecimento e absoluta compreensão de si. Gostei da sensorialidade do post e do úmido contentamento. E as minhas horas de repouso foram gastas zanzando em youtubes e vislumbres de beleza. Vitor Ramil já faz par com Izmália na lista dos gaúchos que me atropelam o sentir.
ResponderExcluirTive o prazer de estar, no fim de semana passado, no parque da Redenção em Porto Alegre, onde Vitor Ramil cantou e tocou, e quando ele cantava a palavra vento, o vento soprava mais forte. Eu juro.
ResponderExcluirSempre me sinto muito grata quando alguém me apresenta uma banda cuja música me faz tão bem ou, se você preferir, me faz "reviver o útero"! Ainda não procurei o Vitor Ramil, mas baixei o último cd da Sigur Rós e já não paro mais de escutar! Agradecida mesmo, por mim e por todos que se dêem ao trabalho de procurar o cd! :)
ResponderExcluirEra só isso que eu queria com este blog, divulgar expressões criativas e apaixonantes, e Sigur Rós é daquelas que mais me fascinam. Teu recado é um prêmio pra mim, uiara, que me deixa realmente contente (não é só no útero!) por saber que estou compartilhando coisa boa.
ResponderExcluirOuça também o disco de 1999, Ágætis Byrjun, que é fabuloso.
Eu que agradeço.