terça-feira, 19 de julho de 2011

Perguntas implacáveis, respostas polêmicas.


O entrevistado em sua casa de verão, onde recebeu a equipe de reportagem com um chimarrão



O seu blog está tendo um sucesso estrondoso, com recordes de visitações. A que se deve tal êxito?
Primeiramente ao uso estratégico da palavra alfa no título e no endereço, o que traz toda sorte de incautos a procura de auto-ajuda, místicos compulsivos, entediados com interesses metafísicos, bobocas fora-de-moda fissurados em orientalismos, desinformados com tendências exóticas, entre outros. Mas meu público mais frequente e fiel são jovens inseguros e pseudo-intelectuais ociosos. Existe, ainda, uma pequena porcentagem de pessoas com real interesse em música, mas aí já passamos para os motivos de potencial fracasso do meu blog. Além disso...

Perdão, mas precisamos passar para a próxima pergunta. Como você adquiriu tanta bagagem cultural?
... como eu dizia, além disso, a picaretagem intelectual tem um público fiel consumidor, o que pelo menos serve para que eu exorcize meus demônios de baixa auto-estima e de fraqueza de caráter. E também não se deve desprezar o fato de que eu não tomo qualquer medicação para vencer os problemas da vida. As pessoas admiram isto. E, bem, qual é mesmo a pergunta?

Falávamos sobre a sua vida sexual...
Hm, não me parece de bom tom esse tipo de pergunta, mas reconheço que é a única coisa que interessa a todos e não há assunto mais importante. Eu não sei bem o que dizer, me sinto encabulado...

Ora, ora, não seja ridículo, é preciso que se diga algo a respeito!
É claro, é claro! Bem, parafraseando Lorde Henry Wotton, eu diria que é preciso curar a alma por meio dos sentidos, e curar os sentidos por meio da alma.

É típico dos intelectuais sair pela tangente com citações literárias. Quais são seus autores prediletos?
Eu já estou bastante entediado com vocês. Na verdade eu fico entediado com as pessoas com uma facilidade que só podem julgar doentia. Eu não sei, deve ter acontecido alguma coisa na minha infância, desconfio que ainda no útero, que me deu um talento ímpar para sentir-me desconfortável na presença de outros seres humanos. Mas não me olhem assim, eu não tenho absolutamente nada contra vocês, e eu até não estou me sentindo tão mal quanto costuma ocorrer, viu? Eu apenas acho, sinceramente, que poderíamos desligar este maldito microfone, nos calarmos e ligarmos o som, alguma música. Me deixaria realmente feliz se pudéssemos dançar agora mesmo. Não há nenhuma moça com vocês?

Seus posts mais pessoais se baseiam em coisas que aconteceram de verdade, realmente?
Eu gosto muito de Yukio Mishima. E as pessoas ficam impressionadas, "nossa, ele conhece até literatura japonesa!". Isso me deixa bem emputecido, mas fazer o quê, se somos sempre julgados por aquilo que somos, não é? Os mais bem informados pensam que, por ter sido Mishima um notório homossexual, eu devo estar enigmaticamente dando indiretas sobre minha obscura sexualidade. Mas devo dizer que os únicos enigmas que eu aprecio são os de Borges. Borges é o nome do porteiro do meu prédio, e ele diz coisas fantásticas, como, por exemplo, rato quando envelhece vira morcego, ou frases excepcionais, como "malandro é o parafuso, que já nasce com o cabelo repartido no meio". Mas eu logo fico entediado com a sabedoria popular. Borges é também o nome de um escritor argentino, talvez vocês conheçam.

Queremos saber a sua opinião sobre assuntos importantes: religião, drogas, mídia, política, casamento gay, vegetarianismo, essência humana, amor...
Eu não tenho força de caráter suficiente para ter opiniões próprias. Leiam Nietzsche e constatem que, vergonhosamente, eu apenas assimilo a sua visão de mundo, sem enfrentamento crítico-histórico.

Como você considera a importância da política para a sociedade?
(risos; em seguida assume um semblante sinistro) Conhece o manifesto simplista do Henrique? "Não existe justiça, existe êxito. Não existe lei, existe acordo. O poder não me seduz e o controle da ejaculação já é suficiente."

Você parece um tanto alienado... já parou para pensar que sozinhos não somos nada?
(com olhar faiscante) Sim, meu amigo. Onde foi que tu aprendeu essa frase? Não interessa. Mas saiba que eu sou muitos...

Mais uma vez, uma saída pela tangente intelectualóide. Diga-nos, como é o seu dia-a-dia?
Faço decálogos. Este foi o último:
- Sol e Aço (Mishima)
- A invenção de Morel (Bioy Casares)
- Martin Eden (Jack London)
- Seis personagens à procura de um autor (Pirandello)
- Mrs. Dalloway / Passeio ao Farol / Orlando (Virginia Woolf)
- Poemas (Fernando Pessoa)
- Contos (Kafka)
- Crime e Castigo (Dostoievski)
- Um antropólogo em Marte (Oliver Sacks)
- Nietzsche

Qual é o sonho da sua vida?
Entrar de penetra numa daquelas festas privês em apartamentos gigantescos, sabe, som bombando a mil, cheio de gente entupida de tudo que é tóxico até o rabo, encher a minha cara, estuprar uma baita duma gostosa num canto escuro, e não lembrar de nada no dia seguinte.

Qual é a coisa mais estranha que já te aconteceu?
... Hm... nossa, nunca pensei nisso... que perguntinha hein? (risos)... Acho que foi na 6ª série, numa daquelas viagens de estudo onde se aprendem valiosos códigos de sociabilidade. Eu gostava de uma guria altona e magra de outra turma. Meus colegas ajeitaram tudo, quando dei por conta eu estava com ela numa sacada do hotel, sozinhos. Era uma noite elétrica, raios e trovões um atrás do outro, uma tempestade acabava de chegar. Ela se tremia toda, tadinha, fechava os olhos a cada raio, era a imagem do medo. Eu, apesar de não ter medo de tempestade, estava completamente cagado de pavor, mal me mexia. Eu sabia que algo tinha que ser feito, mas o quê, caramba! A porta estava trancada por dentro pelos colegas. Pensei em pular sacada afora, mas era muito alto. Acabamos ficando por ali mesmo, não havia saída. Desde aquela vez eu me sinto especialmente atraído por mulheres altas e magras, apesar de que elas nunca se sentem atraídas por mim. Eu acho isso bem estranho...

Não é difícil perceber que você possui uma forte sexualidade reprimida. Isso demonstra que você é carente.
Genial. Olha, eu estou de acordo com o pedófilo do Eduardo Haak: "As pessoas reverenciam demais o inconsciente, ficam cheias de dedos quando se referem a ele. Para mim, o inconsciente não passa de um David Lynch, só que medíocre, sem qualquer talento cinematográfico."

Resuma a sua filosofia de vida, diga qual o sentido de se estar aqui neste mundo, enfim, quem é você?
(em silêncio, o entrevistado liga o seu notebook e acessa o seguinte link)

2 comentários:

  1. passei um tempo fora (em alfa?) e ao voltar deparo-me com um espelho (distorcido e quebrado, deliciosamente impreciso). Além de tudo, eu ri.

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  2. Que bom, és sempre bem-vinda.
    Sabe que até eu dou umas risadas lendo isso aí?

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