"Revoada de gansos silvestres" - Suzuki Harunobu (1766)
Olhei, olhei, atento aos detalhes. Por que o título desta gravura? Os títulos das antigas gravuras japonesas (ukiyo-e) não costumam ser enigmáticos, e sim descritivos. Aqui temos uma cena em que duas cortesãs se voltam para o koto, instrumento de cordas semelhante à cítara. A primeira mulher folheia um livro de peças musicais. A outra apanha a palheta. Mas que revoada de gansos?
Os ukiyo-e refletem a sensibilidade dos instantes fugazes e plenos de vida. Em geral, captam figuras humanas em momentos em que a beleza se manifesta em discreta alegria, realçando a fluidez das formas, que são a própria estampa do contínuo movimento da vida.
Harunobu celebra a beleza feminina, assunto dentre os preferidos daqueles artistas; mas celebra também a música, pura fluidez invisível. E grava no movimento do voo das aves a música elegante e livre da vida fluindo.
Koto: a afinação é feita através dos trastes móveis, aquelas peças brancas sob as cordas.
Revoada de gansos silvestres: cena das mais belas dessa nossa vida que flui em música de formas-movimentos.
Fim do enigma. Estava lá a revoada, debaixo dos meus olhos, debaixo das cordas, debaixo das formas fugidias, esperando por uma afinação do meu olhar. Obrigado, Harunobu.
Lindíssimo. Adoro arte japonesa.
ResponderExcluirPois é, to curtindo tbm.
ResponderExcluirValeu
É doce morrer no mar...
ResponderExcluirO Marcelo Camelo deve estar à procura dessa frase, não? É ótima.
ResponderExcluirEu acho de um primoroso bom gosto. Mas nãp curto muito as barbas do Camelo...
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