domingo, 16 de dezembro de 2018

Meus filmes preferidos de 2018

A cada final de ano escolho os dez filmes de que mais gostei, mas em 2018 só consegui juntar sete. Título, diretor e breve comentário: 

1º) Três anúncios para um crime (Martin McDonagh) 
Nunca foi tão fácil escolher o preferido do ano, disparado acima dos demais. Um improvável estudo sobre a caridade e o perdão, marcado pela violência e pela bizarrice. Fiz um comentário mais extenso para a Amálgama, no link abaixo:








2º) Maria Madalena (Garth Davis) 
Pelo que pude ver, o filme desagradou tanto a cristãos quanto a ateus; na melhor das hipóteses, foi desprezado. Por isso, vale um comentário um pouco mais extenso. Concedo que não é um grande filme, mas a mim tocou o coração. Antes de qualquer coisa, fique claro que não há “relação amorosa” entre Jesus e a personagem-título; o que o filme faz é concebê-la entre os apóstolos de Cristo, como fiel discípula que o segue junto com Pedro, Judas, Tomé e os demais. Embora sempre haja certa margem de ambiguidade, me parece que o filme evita as tentações ideológicas, como a de exaltar a figura feminina a partir de valores modernos. Creio mesmo que o filme transporta para Maria Madalena muito do que caracteriza Maria, a Nossa Senhora. No filme, Maria Madalena é a discípula que melhor ouve Cristo, é a que melhor lhe compreende, a que melhor aceita o que parece insensato em suas escolhas, é a que melhor sabe esperar. Madalena é a mais fraca, a mais passiva, a menor entre todos eles. Mas, na lógica paradoxal dos Evangelhos – em que fraqueza é força, pequenez é grandeza, pobreza é abundância - Madalena é a mais preparada para o Reino. Por isso, acho o filme essencialmente anti-gnóstico, contra o mistério domesticado, que é uma tentação muito presente em outros discípulos, que querem guiar Jesus ou desejam o Reino para agora, para já. Em termos estéticos, o filme tem cenas memoráveis, como a da reanimação de Lázaro e como o rosto iluminado da protagonista ao ver o Ressuscitado. 


3º) O dia depois (Hong Sang-Soo) 
O sul-coreano emplaca o segundo ano consecutivo nas minhas preferências, sobretudo graças à interpretação de Kim Min-Hee e às suas falas cheias de uma lucidez agridoce. É filme que chega ao ponto de perguntar, com todas as letras: “por que você vive?”; no entanto, não lhe falta leveza e um olhar contemplativo de serenidade, que simultaneamente repousam e agitam o espírito. 


4º) A balada de Buster Scruggs (irmãos Coen) 
Considero-o bastante irregular. Embora veja aspectos brilhantes em todas as histórias, meu coração fica quase inteiramente preso ao episódio da moça na caravana. Se é verdade que todos os episódios refletem sobre a morte, penso que essa história trabalha sobretudo com a descoberta da alegria de viver e do feliz acaso de um encontro – bem como com a irônica tragédia dos seus inversos, a insegurança de viver e o infeliz acaso de um encontro, que dão à morte o seu peso terrível e insondável. 


5º) Trama Fantasma (Paul Thomas Anderson) 
De tão perfeito, é difícil amá-lo. A mim o espírito do filme não convence, o que não me impede de ficar fascinado com o seu aspecto, seus modos, sua elegância, seu porte, seu perfume inconfundível de cinema feito com encantamento e excelência. 


6º) 15h17: Trem para Paris (Clint Eastwood) 
Em um filme bastante semelhante ao seu anterior – “Sully: o herói do Rio Hudson” –, Eastwood continua mostrando que sabe como contar uma história. Retornam os elementos e símbolos cristãos, ausentes no filme anterior, embora o assunto principal continue sendo o mesmo: o livre arbítrio. Independente de em quê acreditamos, o fato mesmo de que decidimos agir é um enigma – enigma que pressupõe sempre alguma forma de esperança. Pena que o filme tenha tantas parcelas de banalidade imagética e estética; ainda que se possa dizer que essa é a proposta estética deliberada, creio que falta maior cuidado com a imagem. 


7º) A melhor escolha (Richard Linklater) 
Bastante medíocre e limitado, mas suficientemente espirituoso para ser lembrado com alguma saudade, graças ao entrosamento divertidíssimo entre Steve Carell, Bryan Cranston e Laurence Fishburne. Tem uma cena em que eles jogam conversa fora, falando bobagens mesmo, que me deixou com aquela dor muscular na barriga, que acontece quando rimos demais (ou quando tentamos segurar o excesso de gargalhadas, para não atrapalhar no cinema). Já é o suficiente. (E fico me perguntando se, apesar da mediocridade, não seja talvez melhor do que o aclamado Boyhood, do mesmo diretor). 

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