sexta-feira, 29 de julho de 2011

Épater le réalité ou Tem dias que o quarto parece maior que a torre



A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.
[...]
Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.
Outras vezes ouço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

trecho dos Poemas Inconjuntos de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)




Ora, por favor, deixem que por um instante estas palavras sejam minhas:

A espantosa realidade das coisas é a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é, e é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra e quanto isso me basta.

Ano passado, num arroubo de sincera cafonice obriguei-me a colocar aqueles versos na epígrafe do meu trabalho de conclusão de curso. Foram de Nietzsche e Pessoa as últimas palavras que encontrei para expressar o alegre ressaibo de desesperança deixado pelos anos de pesados fardos do conhecimento. O sentido já se havia subordinado, já se havia compromissado com a clareza, com a retidão, com a necessidade, com a lógica, com a causalidade, com a finalidade. O sentido já não tinha mais espaço para perder-se, e portanto eu já não me encontrava - salvo nos lugares onde esperava-se que eu estivesse.

O homem moderno começa a pressentir os limites daquele prazer socrático de conhecer. (Nietzsche em A Origem da Tragédia)


E aqui já me vejo completamente perdido. Já não sei o que queria dizer no início desta postagem, e já não sei o que é que tantas frases fazem aqui. Melhor assim.


As cenas são de "O enigma de Kaspar Hauser" (dir. Werner Herzog, 1974)

Nenhum comentário:

Postar um comentário