domingo, 27 de novembro de 2011

II. Andante


St. Tropez, França, 1979 - by Elliott Erwitt

Este poeminha tristonho me foi sugerido por Hannah Arendt, quando ela se refere ao processo que lançou o homem moderno às profundezas do seu próprio eu, após o advento da dúvida cartesiana. Recolhido dentro de si mesmo, entregue ao infinito jogo metalinguístico da sua própria mente, o homem tornou-se íntimo da introspecção e estranho ao senso comum. "Os únicos conteúdos que sobraram foram os apetites e os desejos", afirma. É, eu sei.


só sobrou desejo
só sobrou
só, sobrei
soçobrei

[devo parar por aqui? ou continuar? dúvida cartesiana...]

soçobrou razão
só sobrou vontade
soçobrou fé
só sobrou apetite
soçobrou esperança
só sobrou desejo

sobrou só sobrei


2 comentários:

  1. e o desejo nunca é sobra.

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  2. HAHA! Ter fé não é mesmo algo? Obviamente, não para um cartesiano... Too sad to be real.

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