Bem-aventurado é o crepúsculo
que apaga velas cheias de sol
lentamente, sem soprar.
Bem-aventurado é o crepúsculo
que rompe o céu cheio de sangue
devagar, sem machucar.
Bem-aventurado é o crepúsculo
que devolve o pescador cheio de sal
ao seu lar, doce lar.
Bem-aventurado é o crepúsculo
que deixa a praia cheia de silêncio
pra dormir com o barulho do mar.
Bem-aventurado sejas, crepúsculo
tão cheio de doce melancolia
por aportar minha solidão
na praia vazia.
Desconheço o autor desta imagem, mas aí estão as velas apagadas, o céu de sangue, a doce solidão... |
Dedico este meu poema às quatorze pessoas que vão para a beira da praia naquele horário em que todos estão olhando o Jornal Nacional e a novela das nove. O horário em que acendem-se as luzes das casas, em que as famílias sentam-se à mesa. Vagar na beira da praia neste horário é uma experiência de vida, quase indesejável de tão real, quase insuportável de tão solitária. Deve ser algo do tipo o que sente o alpinista quando chega ao topo: amplidão total, uma estranha euforia, todos estão em algum lugar fazendo algo, menos eu que estou aqui, diante do vazio pleno de vida, defrontado com essas coisas todas que parecem exigir uma resposta, mas com as quais só se pode conviver sem fazer perguntas. Experiências de solidão como essa são a única maneira que conheço de ter um mínimo vislumbre dos segredos que o mar, o céu e o vento escondem. Tristezalegria.
Meu filho é poeta!
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