[Publicado originalmente em 29/08/2025 em blog desativado]
"The plot against America", publicado originalmente em 2004, trad. Paulo Henriques Britto, ed. Companhia das Letras, 2018.
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| Martin Lewis |
Sinopse - A eleição presidencial de 1940, nos EUA, é vencida por Charles Lindbergh, candidato que defende a não intervenção do país na 2º Guerra Mundial, enquanto manifesta simpatia pelo nazismo e critica os americanos de origem judaica. A atmosfera de crescente antissemitismo impõe uma série de dificuldades para famílias como a dos Roth, em Newark, Nova Jersey.
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Os acontecimentos da história são bem delimitados - de junho de 1940 a outubro de 1942 - e o narrador é uma versão do jovem Philip Roth, aos sete, oito, nove anos de idade. De modo quase imperceptível, porém, o narrador está num tempo presente não identificado, e às vezes revela ter uma visão retrospectiva inclusive de acontecimentos bem posteriores. Esse truque narrativo - um artifício da ficção que Roth gosta e sabe explorar - permite ao livro ter, simultaneamente, por um lado, o encanto, o espanto, a incompreensão das descobertas de uma criança diante de um terrível e sedutor mundo adulto, e, por outro, uma prosa fluida, sóbria e lúcida, desprovida daquela ingenuidade sentimentalista que frequentemente prejudica histórias conduzidas por personagens infantis.
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| Martin Lewis |
O título original - "The plot against America" - possui uma sutileza que se perde na tradução, enfatizando o aspecto narrativo e ficcional de um dos sentidos de "plot". É justamente o jogo de espelhos entre a realidade e a ficção, implícito em toda a construção de sentido das experiências humanas, que revela as ambiguidades das narrativas que definem quem somos e o que queremos - e o uso cínico e inescrupuloso que alguns fazem disso, manipulando "verdades" e instrumentalizando pessoas. Matéria-prima e prerrogativa do escritor de ficção, a manipulação do plot narrativo é sua forma de ser leal ao leitor no complô contra a realidade.
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| Charles Saxon - arte de capa da The New Yorker |
Os melhores momentos de Complô contra a América são aqueles em que a imaginação do jovem Philip perscruta a realidade do que não compreende, às vezes ficando aquém, outras indo além. A sua estimada coleção de selos é um emblema do esforço de converter a validade histórica em valor estético - e é significativo que seja, primeiro, conspurcada pelos horrores da História por meio de um pesadelo, e, por fim, extraviada, perdida - de modo semelhante ao que acontece com o talento como desenhista de seu irmão Sandy.
Sorte nossa que o velho Philip nos deixou uma coleção de romances que, mais do que ilustrar a America e revelar a condição humana, torna muito mais interessante nossa estadia nessa tal de realidade.
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| Martin Lewis |
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| capa da edição que integra caixa com quatro romances do autor |





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