domingo, 23 de outubro de 2011

Senão Bach


Hoje eu entendi porque é que costumo acordar angustiado nas manhãs de sábado. É o assombro da liberdade combinado com o prévio saber de que nada é do jeito que eu quero; é a liberdade misturada com o fato de que, mesmo tudo sendo possível, não adianta fazer nada, pois vou querer sempre o impossível.

Acho que é a primeira vez que entendo isso objetivamente. Aconteceu quando eu almoçava sozinho em casa, ao som daquela suíte desesperadamente bela do Bach. Foi uma revelação - mas serena, tranquila, desprovida da própria angústia que caracteriza o que sinto.

Nossa, tanta coisa ao meu alcance! Tanta felicidade, tanta conquista, tanta descoberta, tanta vitória! Estão lá, à minha espera, eu sei. Eu, quase rico, quase belo, quase maduro, quase sempre angustiado: que falta que me faz a outra metade de tudo. Mas a tragédia de se estar completo - heroicamente completo no Olimpo - tampouco me satisfaz. O que, deuses meus, pode aplacar a minha angústia - senão Bach?

Abaixo, diversas e diversificadas boas versões da segunda peça (Air) da Suíte Orquestral nº 3 BWV 1068 (também conhecida como Ária na 4ª corda, ou da corda Sol):

Versão tradicional com a Amsterdam Baroque Orchestra regida pelo tourettico Ton Koopman. Dica do Milton Ribeiro.


Acompanhada pelo piano, a solidão do violino de Sarah Chang.


A combinação que me parece mais apropriada: violoncelo e piano (pena o áudio ruim).


Versão para flugelhorn. Coisa mais bonita não há.


Perfeita transcrição para violão! por Peo Kindgren.



Swingle Singers, só na voz.


Magnífica interpretação de orquestra de clarinetes.


Eu lhes confesso: não há nada que eu admire mais do que essa peça de Bach. Ouvi pela primeira vez na televisão, num anúncio que pedia doações para alguma entidade beneficente de Porto Alegre. Nunca ajudei a tal entidade; eles é que me deram uma força sem igual.

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